INANIA VERBA

imagem:Luyis Royo

Ah! Quem há-de exprimir, alma impotente e escrava
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
Olhas desfeito em lodo, o que te deslumbrava...

O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a palavra pesada abafa a idéia leve,
Que perfume clarão, refulgia e voava.

Metáfora



Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível.

Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível.

Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata.
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata vinha a caber
O incabível.

Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua lata fora da disputa
Meta dentro e fora lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
.

Felicidade...!!??


Só a leve esperança, em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência resumida,
Que uma grande esperança malograda
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida
Essa felicidade que supomos
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde estamos.
Vicente de Carvalho

Timidamente


Em fase de construção